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Opinião: De onde vem a onda de demissões em Startups?

Atualizado: 12 de jan.

Desde o início de 2022, toda semana são divulgadas notícias de demissões em massa de empresas do setor de tecnologia e startups, tanto no Brasil quanto no exterior;

Aqui vão alguns números de startups populares aqui no país:

  • Ebanx: 340 demissões

  • Kavak: 300 demissões

  • Gympass: 300 demissões

  • Facily: cerca de 200 demissões

  • Vtex: 193 demissões

  • Favo: 170 demissões

  • MaxMilhas: 162 demissões (42% do total)

  • QuintoAndar: 160 demissões (4% do total)

  • Loft: 159 demissões

  • Olist: 150 demissões

  • Liv Up: 100 demissões

  • SumUp: 92 demissões

  • C6 Bank: 80 demissões (8% do total)

  • Empiricus: 70 demissões (12% do total)

  • PayPal: 60 demissões (15% do total)

Algumas dessas empresas sofreram e muito com a pandemia com quedas em todo o setor, como por exemplo a MaxMilhas ou a Gympass, empresas do segmento de turismo e academias, respectivamente. Mas as restantes não deveriam ter sido tão afetadas assim, principalmente por serem empresas que já nasceram digitais, certo?


Então por que tantas demissões?


A verdade é que toda startup é uma promessa.


Todos os discursos de crescimento exponencial e multiplicação de capital delas é baseado em uma promessa de retorno futuro.

Em outras palavras, a startup só cresce abruptamente quando obtém um investimento externo de alguém que acredita no potencial de multiplicação do valor da empresa.

Ou seja, os investidores compram por X esperando vender, daqui a 5 anos, por 10X.


A própria estrutura de pitchs para rodadas de investimento é voltada para provar aos investidores que a empresa pode dar esse "retorno". Mas o retorno só é possível a partir do momento que o investimento é feito.


No final, ambos saem ganhando: o empresário consegue capital pra girar o negócio e o investidor multiplica seu investimento, se tudo der certo. (Se o empresário dependesse do próprio caixa para financiar a própria empresa, mesmo com uma margem de 100% em seu produto, demoraria um ano para dobrar o tamanho da empresa).


Mas em linhas gerais, é tudo uma promessa.


E como o investidor sabe quanto deve pagar pela empresa e qual o seu potencial de crescimento?

Tudo depende dos dados da empresa e do mercado que ela está inserida. É aí que entra o Valuation de uma empresa.


O Valuation é basicamente a avaliação de quanto a empresa vale, ou melhor, quanto ela pode valer no futuro. Essa avaliação leva em conta a capacidade de a empresa de gerar dinheiro (fluxo de caixa) e como isso pode evoluir nos próximos anos, descontando a taxa de juros, a inflação e alguns outros fatores (no Valuation, esses valores entram na conta como Custo de Capital e Custo da Dívida, que compõem a Taxa de Desconto ou WACC).


Assim que esse valor é calculado, os empresários negociam os valores com os investidores (assim como no programa Shark Tank) e o acordo é fechado. Os investidores então disponibilizam essa quantia (integral ou progressivamente) para a empresa e ela utiliza o dinheiro para financiar a sua operação: contratar pessoas, comprar equipamentos, melhorar o produto, investir em marketing, etc.



Por exemplo: pense que parte da sua empresa foi avaliada e comprada por 1 milhão de reais. Você e os investidores decidem que esse valor será dividido da seguinte forma:

  • 25% vai para a contratação de pessoas,

  • 25% vai para aumentar a sede da empresa,

  • 25% vai para melhorar seu produto,

  • e 25% será investido em marketing.

Isso tudo no período de um ano. Como isso foi combinado com o investidor, ele vai liberar o dinheiro progressivamente, cerca de 83 mil reais por mês. Isso significa que você pode contratar 10 pessoas novas e pagar cerca de 2 mil reais para cada uma com esse investimento (83 mil x 25% = 20,7 mil... que dividido por 10 pessoas é cerca de 2 mil para cada).


Contudo, como dissemos antes, o valor futuro da empresa, o valor da promessa, depende também da taxa de juros e da inflação. Quando esses dois indicadores sobem, o "valor" da empresa diminui.


Mas como o valor diminui se não houve nenhuma mudança real na empresa?


Como eu disse, toda startup é uma promessa.



Não é a toa que as maiores são chamadas de Unicórnios (uma lenda, não existem).


Para que investidor que colocou 1 milhão de reais na empresa consiga multiplicar esse capital, ele precisa que alguém, daqui a alguns anos, compre essa empresa por um valor maior, vamos supor 10 milhões. Mas para isso, alguém precisa querer comprar a empresa por 10 milhões. E a pessoa que irá comprar a empresa irá utilizar o mesmo cálculo utilizado antes, o Valuation.


Por isso, o valor da empresa está sobre constante revisão (geralmente de forma trimestral). E quando esse valor é atualizado, a consequência são as demissões. Simplesmente por flutuações na inflação (IPCA) e na taxa de juros (Selic), que faz com que as empresas "valham" menos, e consequentemente haja menos dinheiro para pagar funcionários e todo o resto.


Para ficar ainda mais claro, pense que você comprou uma casa, reformou essa casa e espera vendê-la por um valor maior do que gastou na compra e na reforma. Mas por conta de guerras mundo a fora e pandemias globais, o preço do imóvel cai e você percebe que terá prejuízo ao vendê-lo.

Esse corte de funcionários das startups é como se você vendesse alguns móveis dessa casa, para não sair no prejuízo na hora de vendê-la.


Mas isso é justo com o funcionário?


Na nossa opinião, não.


Não é justo com o funcionário que quer construir uma carreira, alimentar sua família e financiar sua casa própria, mas acaba sendo demitido não por falta de produtividade nem mau comportamento, mas porque os juros e a inflação subiram. Os produtos ficando mais caros, a parcela do financiamento também, e a pessoa perde o emprego sem nenhuma justificativa plausível. Em empresas que não dependem de capital externo, a equipe tem pelo menos a chance de lutar para manter a receita da companhia e assim manter seus empregos.



Uma alternativa mais amigável é trabalhar em formas mais sustentáveis de crescimento da empresa, para que todos saiam ganhando, empresários, investidores, clientes e colaboradores. Um bom planejamento financeiro que proporcione um orçamento mais resistente, respeito pelos funcionários, melhor alocação dos recursos e uma comunicação mais transparente podem ajudar. Estratégias e procedimentos de redução de custos operacionais também podem ajudar a empresa a evitar medidas tão drásticas.

Além disso, a empresa precisa saber gerar riqueza desde o começo, de forma sustentável, sem depender tanto de investidores. Mas isso é papo para outro post...


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