O assunto do momento é a abolição da jornada de trabalho 6x1, projeto que afeta não só quem trabalha nesse regime, mas também donos de negócios e, de certa forma, a economia brasileira em sua totalidade.
Antes de tudo, vamos contextualizar o assunto. A escala 6x1 se refere ao regime de trabalho onde o colaborador trabalha seis dias para folgar um. É comumente utilizado em empresas que precisam ficar abertas durante o final de semana, como bares, restaurantes, supermercados e lojas (especialmente em shopping centers).
A primeira camada dessa história diz respeito à qualidade de vida. Ninguém ama trabalhar durante o final de semana. Ponto. Assim como trabalhar no contra-turno, trabalhar no final de semana deixa a pessoa desconectada da realidade, do dia-a-dia normal. Você não pode sair com seus amigos no final de semana como um ser humano normal, não pode aproveitar seus filhos quando não estão na escola e, às vezes, não vive conforme o ciclo circadiano normal. Sua rotina se torna diferente do "resto do mundo".
Entretanto, o "resto do mundo", quando está de folga nos finais de semana, quer aproveitar. Vai ao barzinho, ao restaurante, passeia no shopping ou vai ao mercado. Então, por mais injusto ou cruel que isso seja, é necessário que hajam pessoas trabalhando nos finais de semana, inevitavelmente.
Como é sabido, o Brasil tem um ambiente complexo e muitas vezes desfavorável para pequenos negócios. Pequenos estabelecimentos precisam buscar alternativas para sobreviver. E sobreviver, no mundo dos negócios, é ter lucro (ou pelo menos ficar no zero a zero). Para isso, duas coisas são necessárias: vender mais e gastar menos.
No contexto dessa discussão, poucos donos de pequenos negócios podem se dar ao luxo de fechar durante os finais de semana. Pois, além de ser uma forma de vender mais, muitas vezes os dias de maior movimento são justamente no FDS.
Em contrapartida, a famigerada escala 6x1 permite ao empresário que abre sua empresa 6 dias na semana contratar apenas uma pessoa para realizar determinada função (de garçom, por exemplo), em vez de contratar duas pessoas que revesem na função (mas custariam o dobro) ou fazer contratações pontuais (taxa) para suprir desfalques criados por uma escala 5x2 - mas que o deixam vulnerável a riscos trabalhistas.
Com o fim da escala 6x1, podem haver consequências para os dois lados (empregador e empregado). Os empregadores serão obrigados a contratar duas pessoas para realizar uma só função, se quiserem se manter ativos por 6 dias na semana. Para empresas que sofrem financeiramente, que já estão fazendo de tudo para vender mais e gastar o mínimo possível para se manterem vivas, uma contratação a mais é impossível (ou muito difícil). Nesse caso, a única opção do empregador é diminuir o salário que está disposto a pagar. No pior dos cenários, o empregador terá que demitir um bom funcionário para poder contratar duas novas pessoas e se adaptar a nova dinâmica, já que a CLT não permite redução salarial.
Nesse caso, o fim da escala 6x1 também pode ser prejudicial para o empregado. E falando em termos socioeconômicos, pode representar redução na renda média de muitos brasileiros, o que tem impacto direto na economia (menos renda = menos compras = empresas vendem menos = reduzem ainda mais os salários...).
Outro argumento de quem defende essa escala é a tendência mundial de redução de dias de trabalho. Em muitos lugares, a semana com quatro dias de trabalho e três dias de folga já é realidade e estudos comprovam que, em alguns casos, a redução da jornada gera aumento na produtividade.
Contudo, voltamos na questão do "risco Brasil". Empresas inseridas em economias robustas podem se dar ao luxo de reduzir a jornada de trabalho, pois nesses países as empresas conseguem absorver o aumento de custos que essas mudanças causam. No Brasil, a mínima alteração na dinâmica de custos é suficiente para quebrar muitas empresas.
Outra falha nesse argumento da jornada 4x3 é que o aumento da produtividade com a redução da jornada só é possível com auxílio da tecnologia. Entretanto, no Brasil, o custo da tecnologia é alto, porque normalmente vem de fora do país, e para investir em tecnologia é preciso, muitas vezes, de crédito, e o custo do crédito aqui é ainda mais alto.
E mesmo que existam alternativas para aumentar a produtividade das empresas, isso precisa ser feito de forma gradual. Abolir abruptamente a jornada 6x1 pode gerar uma grande instabilidade no mercado de trabalho e um aumento do desemprego e/ou da renda da população inicialmente, para só depois começar a trazer resultados positivos em termos de produtividade.
Mas, apesar de tantas desvantagens, minha opinião como individuo permanece a mesma. Ninguém ama trabalhar no final de semana. Ninguém gosta de folgar apenas um dia. Ninguém quer se "sacrificar" pelo bem da economia brasileira.
Saindo do campo econômico e explorando um pouco a filosofia, o sentido da vida é viver. Por mais gratificante que seja seu trabalho, há muito mais da vida para se explorar. Desse ponto de vista, trabalhar 5 dias e folgar 2 já é antinatural. Trabalhar 6 e descansar 1 chega a ser desumano.
É preciso tempo para descansar, curtir, viajar, refletir e criar. O equilíbrio entre a vida e o trabalho precisa ser levado a sério e, para mim, a vida vem em primeiro lugar. Não importa dinheiro, lucro, prejuízo ou economia. Uma vida é uma vida e ela precisa ser vivida.
Além disso, o empresário brasileiro já está acostumado a nadar contra a corrente. Está acostumado a receber rasteiras inesperadas e mesmo assim levantar e continuar lutando. Para aqueles que o fim da escala 6x1 de fato trouxer dificuldades, será apenas mais um golpe, mais uma dificuldade que iremos superar. E se é para a felicidade de todos e para o bem geral da nação, continuaremos assim, lutando.
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