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Opinião: quando o CEO deve se aposentar?

Atualizado: 12 de jan.

Todos nós idealizamos uma carreira quando somos jovens. Pensamos que, com nossa inteligência fora do normal, vamos subir rapidamente a posições de gerência, mudar o rumo da empresa que trabalhamos e fazê-la ter muito mais sucesso, e nos aposentaríamos ainda jovens, com 50 anos, para viajar o mundo e fazer as coisas que gostamos. Para isso, também idealizamos que seremos capazes de ganhar quantidades astronômicas de dinheiro nesse curto período.


Conforme vamos crescendo e amadurecendo, percebemos que a realidade não é tão gentil. Além de inteligente, você precisa ser comunicativo, super disciplinado, criativo, ter habilidades de liderança, se relacionar com as pessoas certas e contar com uma boa dose de sorte no caminho.

Aquela rota ideal começa a precisar de alguns ajustes. Resignamo-nos com um cargo médio, pois é o que tem a melhor relação esforço vs retorno e é o máximo que conseguimos sem precisar puxar saco de alguém que não gostamos. Nos resignamos com um salário ok, pois percebemos que o dinheiro não compra muitas das coisas que nos fazem realmente felizes. Percebemos que precisamos equilibrar o tempo que investimos no trabalho com o tempo que investimos em nosso corpo, nossa mente, nossa família, nossos amigos e nossa alma.


Mas, no fundo, sempre fica aquela sensação de "e se eu tivesse me sacrificado mais?" ou "e se eu tivesse tido mais sorte?". Algumas pessoas conseguem essa proeza, e a meta de acumular o máximo de dinheiro possível para se aposentar cedo continua sendo seu objetivo.

Entretanto, essa pessoa precisa se comprometer com muitas coisas. Um empresário, por exemplo, que dedica sua vida para o sucesso da empresa, precisa se envolver com os processos da empresa e garantir que tudo está rodando conforme o planejado. Precisa se comprometer com fornecedores e clientes, para criar relações fortes de parceria. Precisa se comprometer com a equipe, e investir no desenvolvimento e formação de profissionais. E precisa ser paciente, pois o sucesso da empresa pode levar anos para aparecer.

Quando ele se da conta, está tão imerso no negócio, tão preso aos processos e as pessoas, que não consegue mais desapegar. Nem na prática, pois perderia clientes ou o time iria desanimar, quanto na sua mente, pois passar anos investindo dinheiro, tempo e folego em um negócio te faz muito dependente (psicologicamente falando) daquele negócio.

Então o empresário faz de tudo para permanecer até o fim de sua vida participando da construção e manutenção da empresa. E aquele plano de se aposentar cedo e viajar o mundo ficou para uma próxima oportunidade.


Nossa opinião é que isso não precisa ser assim. O empresário deve entrar na empresa com uma data de saída definida. Vejamos o caso de Andrew Formica, ex-CEO do fundo de investimentos Jupiter, avaliado em 68 bilhões de dólares, que se aposentou aos 51 anos para "sentar na praia e não fazer nada".



Formica nasceu na Austrália e por conta do trabalho, vive em Londres a três décadas. O empresário afirmou que a necessidade de optar pela aposentadoria foi sem dúvida por motivos pessoais, como a vontade de estar mais perto de seus pais, em sua terra natal.

Contudo, a repercussão da notícia tomou uma forma um tanto quanto negativa. É possível interpretar, por exemplo, que o portal responsável pela publicação da matéria acima enfatizou a vontade do CEO de querer "não fazer nada". É como se ele tivesse uma certa parcela de culpa ao deixar a empresa, uma certa falta de responsabilidade com as obrigações de seu fundo, ou até certa desconsideração para com o resto da empresa.


Mas a verdade é que ele está vivendo o sonho, e de certa forma, é invejado. É a mesma coisa quando somos crianças e queremos ser pilotos de corrida ou astronautas, mas tomamos caminhos diferentes na vida, e quando olhamos para pessoas que realmente se tornaram pilotos e astronautas, lá no fundo imaginamos como seria se fossemos nós no lugar deles.


Acreditamos fortemente que esse deve ser sim o foco do empresário. Ao contrário de profissionais como Warren Buffet, que aos 91 anos ainda encabeça as operações de sua empresa de investimento, a Berkshire Hathaway, entendemos que o empresário deve, desde o começo da empresa, trabalhar para que a sua pessoa não seja um gargalo na empresa. As pessoas precisam ser autônomas e independentes, os processos precisam ser claros por si só, e os clientes e fornecedores precisam confiar na empresa como um todo, e não no "dono". Na realidade, podemos chamar isso de boa governança, um tema tão falado hoje com a popularização do ESG.


Contanto que haja responsabilidade no processo, o profissional deve sim planejar esse movimento para poder usufruir do que construiu com muito sacrifício. Ele deve sim poder pedir as contas para ir para a Austrália passar o resto de seus dias de chinelo e bermuda, curtindo a companhia de seus pais na beira do mar, pois foi por isso que ele entrou nessa jornada. Foi por momentos como esse que ele sacrificou boa parte de sua vida. E é somente quando essa decisão é tomada que sua escolha de se tornar empresário passa a valer a pena de verdade.


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