A Liberated Brands, empresa responsável pela operação e distribuição das marcas Quiksilver, Billabong, Volcom, RVCA, Roxy, entre outras grandes marcas de streetwear, entrou com um pedido de falência nos EUA.
A companhia anunciou que fechará todas as suas lojas nos Estados Unidos até o final do ano. Mas qual a causa de uma medida tão drástica?
Fatores macroeconômicos e mudanças no comportamento do consumidor impactaram fortemente os resultados da empresa, que não conseguiu ajustar sua estratégia financeira à volatilidade do mercado.
O que é a Liberated Brands?
A Liberated Brands LLC foi criada em 2019, com apoio do Authentic Brands Group (ABG), e é uma das empresas responsáveis pela operação e distribuição de diversas marcas nos EUA. A ABG, que detém os direitos das marcas citadas, utiliza outras empresas, como a Liberated, para licenciar e gerenciar a produção e a distribuição dos seus produtos. Em resumo, a Liberated detém a licença para fabricar e vender essas marcas, permitindo que a ABG se concentre em estratégias mais amplas, sem se envolver diretamente nas questões operacionais.
Embora ambas as empresas tenham sido criadas em um período turbulento (pré-pandemia), o setor de streetwear teve um crescimento impressionante em 2022, alcançando recordes de faturamento devido à demanda reprimida da pandemia e à migração para roupas mais casuais, em detrimento de peças formais.
Novas tendências de mercado
O surgimento da Liberated Brands e o modelo de licenciamento da ABG ocorreram em um momento crucial, como uma tentativa de reagir à ascensão do “fast-fashion”. Esse modelo de negócios, que se distingue pela criação e distribuição acelerada de coleções, difere da abordagem tradicional, em que as coleções eram lançadas sazonalmente, com ciclos de produção de até 24 meses.
No fast-fashion, as novas coleções são criadas e distribuídas de forma contínua, com urgência, priorizando a velocidade em detrimento da qualidade e da identidade das marcas, algo que gera controvérsias. Exemplificando, a Arezzo lança 5 novos produtos por dia!
Essa tendência se consolidou nos últimos anos, com consumidores cada vez mais interessados em renovar seus guarda-roupas rapidamente, por um custo acessível, o que reflete um comportamento semelhante ao aumento do consumo de conteúdo superficial, mas constante.
Impactos na operação
Essa mudança no comportamento do consumidor trouxe implicações significativas para as operações das marcas, desde os prazos de criação até as características da cadeia de suprimentos, que envolvem fabricação, transporte e estratégias comerciais.
Marcas tradicionais, com identidades bem definidas e um foco maior na qualidade, enfrentaram dificuldades para adaptar seus modelos de negócios ao ritmo acelerado do fast-fashion, o que gerou sérios problemas financeiros.
O que deu errado?
A expansão acelerada de 67 para cerca de 140 lojas entre 2020 e 2022, juntamente com a aquisição de múltiplas licenças, ocorreu sem o investimento necessário em infraestrutura para sustentar essa operação. Como resultado, a Liberated não conseguiu manter a qualidade e a rentabilidade exigidas pelos contratos de licenciamento.
Adicionalmente, o cenário econômico nos EUA não ajudou, com a inflação elevando os custos de produção, reduzindo o poder de compra da população e tornando as dívidas da empresa cada vez mais caras devido ao aumento das taxas de juros.
Como consequência, a empresa acumulou dívidas que variam de US$100 milhões a US$500 milhões. Além de bancos e fornecedores, a própria Authentic Brands Group foi afetada pela inadimplência, não recebendo os royalties das operações licenciadas, o que resultou na rescisão do contrato entre as duas empresas.
Medidas drásticas
O fechamento das lojas nos EUA é uma consequência direta da rescisão dos contratos de licenciamento da Liberated pela ABG, devido à falta de pagamento dos royalties. A expectativa é que a ABG busque novas empresas para licenciar suas marcas, com foco em regiões mais estratégicas e estruturas de custos mais enxutas.
O pedido de falência da Liberated tem como objetivo criar um cenário controlado para liquidar ativos e saldar dívidas com fornecedores e investidores.
Conclusão: O fim de uma era ou o início de uma nova estratégia?
A falência da Liberated não é apenas reflexo de uma crise no setor, mas também um sinal claro de que as marcas precisam se adaptar às novas dinâmicas do mercado. O fast-fashion, a falta de inovação e a má gestão financeira culminaram em um colapso que pode ser o fim para algumas marcas, mas também uma oportunidade para reavaliar estratégias.
Se você está enfrentando dificuldades financeiras ou desafios em sua adaptação ao mercado, agora é o momento de repensar sua estratégia. Uma boa gestão financeira e a capacidade de se adaptar à nova dinâmica de consumo podem ser decisivas para o sucesso.

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